Os fatos aqui narrados aconteceram no final do ano de 1927. A partida de futebol mencionada (entre os selecionados paulista e carioca), definiu o Campeonato Brasileiro de 1927. O presidente da república, à época era WASHINGTON LUÍS. O trecho foi extraído do livro "1930: OS ÓRFÃOS DA REVOLUÇÃO", de Domingos Meirelles:
"WASHINGTON LUÍS EXIBIA, NESSE COMEÇO de tarde, um frescor juvenil. Paciente e gentil, parecia estar ainda sob os efeitos dos ruidosos aplausos que recebera, dias atrás, no estádio do Vasco. Cerca de 50 mil pessoas que lotavam as arquibancadas, em São Januário, na decisão do campeonato brasileiro [de estados], ovacionaram o presidente durante três minutos. A manifestação apoteótica, antes do início do jogo entre paulistas e cariocas, o impressionara profundamente. Na saída, comovido com tamanha demonstração de carinho, não se conteve:
- Nunca recebi tantas palmas em minha vida. Nem em minha terra.
O elogio de Washington Luís aos torcedores do Rio provocara melindres no Diário Popular, O Estado de São Paulo e Revista Esportiva. Na verdade, o que enervara a imprensa de São Paulo fora a interferência do presidente na partida. Aos trinta e 33 minutos do segundo tempo, quando o jogo estava empatado em 1 a 1, o juiz marcara penalti contra os paulistas. Em sinal de protesto, o time visitante ameaçava abandonar o campo. Da tribuna de honra, Washington Luís ordenou que o jogo continuasse. A notícia espalhou-se pelo estádio. ao entrar no gramado para cumprir a determinação presidencial o oficial-de-gabinete recebeu estrondosa salva de palmas. A torcida queria vingar a derrota sofrida em abril, durante a inauguração do estádio, quando o Vasco perdera de 5 a 3 para o Santos.
Ao receber a ordem para reiniciar a partida, Feitiço, mulato disfarçado que nem era o capitão do Atime, cuspiu de lado, e respondeu:- O presidente manda lá em cima [na tribuna de honra], mas aqui embaixo [no campo] mando eu. Numa reafirmação da sua liderança, fez um sinal com a cabeça, e abandonou o jogo com os companheiros. Apesar de os paulistas deixarem o campo, o árbitro manteve a decisão e ordenou que fosse cobrado o pênalti. Com o gol vazio, o jogador Fortes chutou e fez 2 a 1 e conquisou o título de campeão brasileiro para os cariocas. A reação de Feitiço deixava o presidente ofendido, mas o mal estar fora passageiro. Ao deixar o estádio coberto de manifestação de carinho da torcida, Washington Luís considerou-se o verdadeiro vencedor daquele jogo."
"Ilustração: Feitiço, considerado o maior ídolo do Santos Futebol Clube na era antes d'Ele, e titular da Seleção Paulista.
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